11.06.2004

Aumenta o uso de drogas pelos jovens e pobres

Le Monde
Pesquisa aponta que maior parcela de usuários tem de 15 a 24 anos
Paul Benkimoun
Em Paris
O relatório das pesquisas para o ano de 2003 do Observatório francês das drogas e das toxicomanias evidencia que os usuários de drogas que têm entre 15 e 24 anos, bem mais numerosos, adotaram um comportamento específico: 85% dentre eles consomem maconha, uma maior quantidade de ecstasy e, sobretudo, na proporção de um terço dentre eles, uma droga chamada Subutex. Eles são mais novos, consomem com freqüência vários tipos de drogas e se encontram numa situação social muito mais precária do que os seus colegas mais velhos. Este rejuvenescimento da população dos toxicômanos na França é o fenômeno mais marcante em 2003, segundo o relatório nacional do dispositivo Trend (iniciais de Tendências Recentes e Novas Drogas), que o Observatório Francês das Drogas e das Toxicomanias (OFDT) acaba de disponibilizar para o grande público no seu site (www.ofdt.fr). As outras tendências são a continuidade da progressão do uso da cocaína e a nova paixão pelo consumo de substâncias alucinógenas naturais (cogumelos).
O relatório Trend faz a síntese dos dados que foram fornecidos por uma rede nacional de 12 centros de observação na França (dos quais 9 ficam em regiões metropolitanas), que realiza, entre outras, a pesquisa conhecida pelo nome de "primeira linha", por meio do dispositivo de observação das drogas de síntese e, por fim, por meios de parcerias como órgãos públicos.Ele "tem por objetivo fornecer de maneira precoce informações sobre os usos e os usuários de drogas ilícitas e sobre os fenômenos emergentes que estão vinculados e este universo", precisa Jean-Michel Costes, o diretor do OFDT, um organismo financiado pela Missão interministerial de luta contra as drogas e a toxicomania (MILDT).
O trabalho de observação foi desenvolvido em dois meios distintos. O primeiro é o espaço urbano, que corresponde a uma população estimada em 160 mil pessoas e que era dominada, no passado, pelos consumidores de heroína. As informações sobre este espaço são obtidas junto a estruturas conhecidas pelo nome de "de baixo patamar", em primeira linha para o atendimento dos toxicômanos, e para observações de comportamentos na rua ou de moradias marginais.O segundo meio é o "espaço festivo", principalmente onde se toca música "tecno", que abrange as "free parties" (festas de arromba), as "raves", os "teknivals" (festivais tecno), assim como as discotecas, as boates e os bares.
O relatório para o ano de 2003 evidencia um rejuvenescimento das populações encontradas nas ruas ou nas estruturas "de primeira linha" (lojas especializadas, programas de trocas de seringas).
De fato, as observações do dispositivo Trend permitiram identificar três subgrupos de jovens usuários que não apareciam de maneira significativa anteriormente. Um primeiro subgrupo é constituído por "pessoas fortemente marcadas pela cultura "tecno", e que reivindicam certas formas de marginalidade" (andanças sem rumo, nomadismo).
Um segundo subgrupo é representado por pessoas em situação de ruptura com a sua família e cujo nível de inserção social é bastante reduzido. O terceiro é constituído por pessoas recém-imigradas, em particular provenientes dos países do leste europeu, e que preferem geralmente consumir estimulantes. Os dois primeiro subgrupos encontram-se na intersecção dos dois espaços estudados --urbano e "festivo"--, o que tem por efeito de reduzir as diferenças antes existentes entre as diferentes práticas e formas de consumo.
Menos opiáceosAs práticas destes jovens que têm entre 15 e 24 anos diferem em parte daquelas dos seus colegas mais velhos. Praticamente, a totalidade dentre eles consumiu tabaco (92%), maconha (85%) e álcool (80%) no decorrer do mês que antecedeu a sua entrevista. É dentro desta faixa de idade que a proporção de usuários cotidianos de maconha é a mais elevada (68%, contra 61% entre os que têm 25 anos ou mais).
Da mesma forma, no decorrer do mês que antecedeu a pesquisa, a taxa de consumo de estimulantes e de alucinógenos foi mais importante do que para os usuários mais velhos, diferentemente do que tem sido observado para os opiáceos.
Os estimulantes mais utilizados pelos jovens de 15 a 24 anos são o ecstasy (59%, contra 23% para os que têm 25 anos ou mais) e o cloridrato de cocaína --sob forma de pó-- (42% contra 33%). Os cogumelos figuram no topo da lista dos alucinógenos (30%, contra 9% entre os mais velhos), seguidos pelo LSD (23% contra 7%).
Consumindo menos opiáceos, com exceção do "rachachá" (um derivado da papoula, apelidado de "ópio de nível inferior"), os jovens toxicômanos utilizam --na proporção de um terço dentre eles-- a buprenorfina de alta dosagem (Subutex), desviada de seu uso como tratamento de substituição, sendo que um quarto dentre eles consome heroína.
O modo de consumo privilegiado dos jovens de 15 a 24 anos é o "sniff" --consumo por via nasal-- (57% contra 28% dos que têm de 25 anos para mais), enquanto 28% praticam a injeção de drogas (contra 40% dos mais velhos).Por fim, nesta população jovem, a taxa de infecção pelos vírus da Aids (6%) ou das hepatites B e C (3% e 17%) permanece reduzida, mas estes números devem ser considerados de forma não tão absoluta e mais relativa: cerca de um jovem em cada dois apenas praticou uma vez na sua vida um teste de detecção.

Alucinógenos naturais
O resto desta vasta pesquisa confirma vários fenômenos. Diferentemente do que tem sido observado para a heroína, que vem regredindo no espaço urbano sem progredir de maneira significativa no espaço festivo, o uso de cocaína continua a sua progressão, nestes dois meios. Tanto num como no outro, mais de um terço dos usuários consumiu cocaína no decorrer do mês que antecedeu a pesquisa enquanto "os perfis sociais dos usuários deste produto vêm se diversificando", constatam os autores do relatório, uma vez que o consumo da cocaína envolve tanto marginais quanto pessoas de renda elevada. Vale notar, por fim, que o Subutex se tornou "o opiáceo mais consumido em relação à heroína, e que no decorrer do mês que antecedeu as entrevistas, 4 toxicômanos entre 10 o consumiram".Uma última tendência marcante evidenciada por este relatório é a moda dos alucinógenos naturais. "Os cogumelos alucinógenos beneficiam de uma imagem positiva entre os consumidores, que os assimilam com freqüência a produtos "biologicamente corretos".
Mais desvencilhados do tráfico do que outras substâncias ou ainda, mais acessíveis pela Internet, eles são também objeto de uma colheita de estação", explica o médico Pierre-Yves Bello, um dos responsáveis do dispositivo Trend. Classificadas como entorpecentes, estas substâncias são consumidas sobretudo no espaço festivo, assim como no espaço urbano (14% disseram ter consumido cogumelos no decorrer do mês que precedeu a pesquisa).
Perda dos vínculos sociais
Os jovens usuários de drogas, dos quais o relatório Trend para o ano de 2003 sublinha que seu número aumentou, não diferem dos seus colegas mais velhos apenas por causa da natureza diferente dos produtos que eles consomem. Os pesquisadores sublinham que a "situação de sofrimento social", entre os jovens na faixa de idade de 15 a 24 anos no quadro da população estudada, é mais importante do que para os que têm 25 anos e mais. A pesquisa que se aplica aos usuários das estruturas "de primeira linha" evidencia o perfil-tipo de um homem (80% dos usuários), cuja idade média é de cerca de 30 anos, desempregado e cujo nível de estudos é equivalente ao ensino médio incompleto.
Mas a situação parece ser pior entre os mais jovens. Mais de 6 entre 10 entrevistados declararam viver num alojamento precário ou não tem alojamento nenhum, contra um pouco mais de 4 entre 10 para os seus colegas mais velhos. Enquanto eles representam 26% da população estudada, os jovens de 15 a 24 anos representam mais de 45% das pessoas que disseram não beneficiar de nenhuma cobertura social. Por fim, 37% dos jovens de 15 a 24 anos declararam não dispor de nenhum recurso financeiro, contra 8% entre os que têm mais de 25 anos, que podem beneficiar da renda mínima de inserção (RMI - auxílio proporcionado pelo Estado).
Tradução: Jean-Yves de Neufville