Desemprego atinge 19,8% em SP
Lalo de Almeida/Folha Imagem
Fila de candidatos a 30 vagas com salário de R$ 866 no Metrô de São Paulo; 133 mil já se inscreveram para o emprego
A taxa de desemprego na região metropolitana de São Paulo subiu de 19,1% em janeiro para 19,8% em fevereiro. É o pior resultado para o mês desde 85, ano de início da pesquisa da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos).
SP tem 48,5% dos desempregados de seis regiões
DA SUCURSAL DO RIO
Das 2,5 milhões de pessoas desempregadas em fevereiro nas seis regiões metropolitanas esquisadas pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 48,5% estavam em São Paulo, onde a taxa de desemprego ficou em 13,6%, contra 12,9% do mês anterior.Anteontem, pesquisa da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) e do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos Sócio-Econômicos) apontou uma taxa recorde em São Paulo (19,8%) para os meses de fevereiro desde o início do levantamento, em 1985.Os dados do IBGE e da pesquisa Seade/Dieese não são comparáveis, pois existem diferenças nos conceitos de desemprego.O IBGE apura apenas o desemprego aberto, que investiga quem está sem trabalho, mas procurou uma ocupação nos 30 dias anteriores à realização da pesquisa.A taxa medida pelo Seade/Dieese inclui outros dois elementos: o desemprego oculto por trabalho precário e o desemprego oculto por desalento, segundo Marise Hoffmann, economista do Dieese.Por esse motivo, o dado do Dieese é mais alto. Ela reconhece que as pesquisas oficiais da maioria dos países levantam apenas o desemprego aberto, como ocorre no levantamento realizado pelo IBGE.O conceito de trabalho precário agrupa os que atuam por conta própria (ambulantes e biscateiros) que estão insatisfeitos com seu rendimento e procuraram um emprego.Já o desalento inclui quem procurou uma colocação ao menos uma vez nos últimos 12 meses, mas desistiu de procurar porque não encontrou um posto.A pesquisa Seade/Dieese traz também uma taxa de desemprego aberta, com uma metodologia que se assemelha mais com a do IBGE, embora existam algumas diferenças. Por esse indicador, o desemprego passou de 11,9% em janeiro para 12,6% em fevereiro, mais baixo do que o resultado do IBGE.Pelos dados do IBGE, a taxa mais alta para São Paulo havia sido registrada em outubro de 2003 -15%.Outra diferença, disse Hoffmann, é que a taxa do Dieese é uma média dos resultados apurados nos últimos três meses."Com isso, as oscilações são suavizadas e mostram mais a tendência." A taxa do IBGE é mensal.
Dados de pesquisas formam quadro ainda desalentador, diz economista
DA REPORTAGEM LOCAL
Os dados de fevereiro sobre mercado de trabalho divulgados por quatro diferentes instituições neste mês formam um quadro ainda desalentador para o emprego no Brasil. Se por um lado o Ministério do Trabalho e a Fiesp apontam para reação positiva na quantidade de vagas, o convênio Seade/Dieese e o IBGE mostram que isso não teve efeito sobre a elevada taxa de desemprego.
A consideração é do economista Claudio Dedecca, professor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do Cesit (Centro de Estudos Sindicais). Dedecca, que trabalhou de 85 a 88 na Fundação Seade, alerta que é preciso diferenciar nível de emprego de taxa de desemprego. "Pesquisas como as da Fiesp e do Ministério do Trabalho mostram o saldo das vagas criadas ou eliminadas. Não é feita uma relação com a quantidade de pessoas à procura de trabalho".
Folha - Quais as diferenças entre as pesquisas de emprego no país?Claudio Dedecca - No Brasil há dois tipos de pesquisa: a domiciliar, realizada pelo IBGE e Seade/ Dieese, e as feitas a partir de dados fornecidos por empresas, divulgadas pelo Ministério do Trabalho e pela Fiesp. Nesse último caso, o que se tem é o nível de emprego, o saldo de vagas criadas ou eliminadas, sem se fazer relação com a quantidade de pessoas à procura de trabalho. Já IBGE e Seade/Dieese, além de geração ou eliminação de vagas, pesquisam a PEA [População Economicamente Ativa], ou seja, mostram quantas pessoas entraram ou saíram do mercado em certo período e relacionam com a quantidade de vagas criadas ou não. Mostram também o mercado informal [sem carteira assinada]. Para Seade/Dieese, apura-se a taxa de desemprego aberta, oculto pelo trabalho precário e por desalento.
Folha - A partir dos dados divulgados, a qual conclusão se chega?
Dedecca - O quadro ainda é desalentador. Os dados da Fiesp e do Caged [Cadastro Geral de Empregados e Desempregados] apontam que a situação do nível de emprego formal na indústria melhorou, já que houve aumento de postos de trabalho em fevereiro. Só que os números do Seade/ Dieese e do IBGE, que pegam também o mercado informal, mostram que a taxa de desemprego aumentou. Ou seja, as vagas criadas com carteira assinada foram muito poucas perto da quantidade de pessoas no mercado.
Folha - O Caged aponta criação de 4.120 vagas para a região metropolitana de São Paulo na indústria em fevereiro. O Seade/Dieese, menos 1.000 vagas formais. Por que a diferença?
Dedecca - O ponto mais importante é que a pesquisa Seade/ Dieese é realizada a partir de uma média trimestral, o que é feito para dar representatividade à pesquisa [o instituto pesquisa 3.000 domicílios por mês]. Ou seja, os dados de fevereiro são relativos ao período de 1º de dezembro a 29 de fevereiro e comparados ao período de 1º de novembro a 31 de janeiro. Já os do Caged pegam de 1º de fevereiro ao dia 29 de fevereiro. Além disso, no caso do Caged e da Fiesp você levanta dados sobre emprego apenas com empresas razoavelmente organizadas, que têm estrutura para passar essas informações para essas entidades.Os dados do Seade/Dieese podem ser de empresas pequenas, que muitas vezes não informam ao Ministério do Trabalho ou à Fiesp seus dados. (MAELI PRADO)
FSP, 26/03/2004
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